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Saiba como nos últimos 20 anos o pib chinês cresceu uma média superior a 7% ao ano


24.09.2021

Ao falarmos da economia chinesa, muito se discute sobre o acelerado crescimento econômico do país a partir da década de 80. Para entender esse processo é importante notar as características do modelo de desenvolvimento adotado pelo Partido Comunista Chinês que foi capaz de alavancar a economia. O modelo acabou ficando conhecido, em parte da literatura acadêmica, como “Consenso de Pequim” em oposição ao renomado Consenso de Washington.

O Consenso de Washington é baseado em práticas neoliberais, que eram recomendadas pelo Banco Mundial e FMI aos países emergentes, principalmente a ideia de livre mercado, que é, ainda hoje, uma condicionalidade para participação e concessão de empréstimos por parte dessas organizações internacionais. Este surge como dez medidas com recomendações econômicas e políticas para Estados em desenvolvimento, elaboradas por John Williamson. As medidas incluem: disciplina fiscal, reorientação dos gastos públicos, reforma tributária, liberalização do sistema financeiro, taxas de câmbio competitivas, liberalização do comércio, abertura para o financiamento externo direto, privatização das empresas estatais, desregulamentação e defesa da propriedade privada.

O conceito “Consenso de Pequim” apareceu pela primeira vez em 2004 em uma publicação de Joshua Cooper Ramo para designar o modelo desenvolvimentista chinês. O conceito em si é carregado de ideologias, mas é relevante para discutirmos os atributos deste desenvolvimento. O modelo prevê o controle do Estado sobre a economia, contrapondo o tradicional laissez-faire que a ordem mundial liberal se pauta. O modelo chinês se baseia, segundo Joshua Cooper Ramo, em três características fundamentais: inovação e constante experimentação; ênfase a qualidade de vida e enfoque na autodeterminação.

A China utilizou taxas de juros artificialmente baixas e controle de crédito para setores estratégicos, combinando política, comércio e economia para pensar no desenvolvimento. Além disso, estabeleceu taxas de câmbio também artificialmente muito altas, favorecendo a tendência exportadora que foi base para o desenvolvimento industrial e, também, protegendo a indústria nascente de uma consequente competitividade pela exposição ao mercado internacional, resultado da liberalização. As empresas estatais receberam maior autonomia com o tempo, porém junto com a autonomia, aumentou também a supervisão, mesmo que sujeitas às forças do mercado, o Estado ainda era ator presente podendo a qualquer momento intervir em função das empresas estatais.

O processo que ficou conhecido como “dual track” representa o planejamento do governo chinês ao permitir pequenas liberalizações em sua economia, tanto no mercado, como da agricultura, o estímulo a iniciativas rurais e as reformas do sistema financeiro, que separou bancos de políticas dos bancos comerciais, e foram sempre conduzidas pelo governo central.

Foi através dessas reformas que a economia chinesa passou a crescer a taxas impressionantes, sendo o crescimento real do PIB na Era Deng estimado em 10% ao ano, enquanto a inflação permaneceu a uma taxa de 6% de crescimento ao ano. A análise desses dados permite contestar os princípios liberais, que afirmavam ser impossível que um país mantivesse altas taxas de crescimento sem exercer forte pressão inflacionária na economia.

Apesar do crescimento acelerado da economia chinesa, esse não se deu de forma desenfreada, porque todo esse processo foi acompanhado de perto pelo Estado, o qual ainda controlava salários, ampliou garantias sociais, inicialmente no campo e depois nas cidades, e se aproveitou do crescimento econômico para aumentar também a qualidade de vida de sua população, que em conjunto com o governo central, enriquecia gradualmente.

Texto por Luiza Enfeldt

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